6 de fevereiro de 2013

Para entender a Idade Média: abertura popular para o bem. Exemplo do padre Foulques de Neuilly

Um exemplo significativo da flexibilidade de espírito dos medievais vem da história de Foulques, vigário de Neuilly-sur-Marne, na França.
Ele, de início, foi um vigário relaxado que vivia como um leigo na ignorância da religião. E na Idade Média havia duas categorias bem definidas de vigários: o relaxado e não relaxado.
Esse vigário relaxado à certa altura se converteu e se transformou num bom vigário.
Sua ação começou a se difundir em torno de Neuilly-sur-Marne. Depois começou a ser conhecido fora, mas mal visto.
A conversão dele datava de apenas dois anos, quando ele soube que havia uma assembleia geral de abades para tratar das Cruzadas.
Ele vai, se apresenta nessa assembleia e fala aos abades. Os abades se recusam a apoiá-lo.
Então, ele resolve dirigir-se ao povo que se comprimia do lado de fora. Falou com tanta força, com tanta unção, de um modo tão religioso que toda a multidão que o ouvia – velhos, homens, mulheres, nobres, plebeus – resolveu tomar a cruz.
Depois, ele começou a pregar a Cruzada por toda a região.
Entre os episódios, conta-se que ele encontrou, num castelo, um grupo de nobres ingleses e franceses, que se divertiam num torneio.
Ele dirigiu-se aos nobres e mostrou que era coisa absurda eles estarem combatendo uns contra os outros, quando o mais importante era defender o sepulcro de Cristo, glória muito maior do que a glória dos torneios.

Foulques de Neuilly pregou a IV Cruzada na igreja de S. Severin de Paris.
Os nobres se impressionaram tanto que todos eles deixam a guerra entre si e vão para as Cruzadas. E eles formaram o cerne da IV Cruzada a Terra Santa.

Depois disto ele vai a Paris para pregar diante da multidão. 

Fala a respeito da gravidade dos pecados. 

É tão grande a impressão que ele causa em seus discursos feitos em praça pública que muitas pessoas tiram os calçados, jogam-se aos pés dele levando-lhe correias e varas, pedindo que lhes dê uma sova... 

Ele falou sobretudo contra os usurários e as mulheres perdidas. 

Muitas mulheres perdidas aproximavam-se dele com os cabelos cortados, pedindo que ele indicasse para elas um estilo de vida. 

E foram tantas as mulheres perdidas que ele converteu que teve que fundar um convento delas: a abadia de Saint-Antoine-des-Champs no bairro Saint-Antoine.

Mais ainda. Ele tocou corações mais duros que os dessas mulheres... Convertia usurários, exigia que eles devolvessem o dinheiro roubado e para depois se emendarem. 

Havia usurários, em quantidade, que davam o dinheiro para os pobres e mudavam de vida... 



Ricardo Coração de Leão foi convertido
pela pregação de Foulques de Neuilly.

Tratava-se de mudanças profundas de orientação e de deliberação
Tratava-se de almas susceptíveis de serem tocadas pela graça. 

A conversão de Ricardo, rei da Inglaterra 

Numa ocasião foi pregar para Ricardo, rei da Inglaterra. Apresentou-se para ele e disse: 


– Rei, deves deixar as três mulheres que tens.

O rei:

– Hipócrita, não tenho nenhuma.

Ele: – Tens três mulheres, que são: a avareza, a impureza e a soberba.

O rei: – Não há dúvida! 

Volta-se para os nobres e diz: – Eu dou a avareza para..., a impureza para o episcopado, o orgulho dou para os Templários...



Ricardo Coração de Leão,
túmulo na abadia de Fontevraud, França
A bondade aliada à severidade: condição para mover as almas
Era taumaturgo. E, além disso, pela imposição das mãos, ele curava. 

Mas havia algumas pessoas que ele declarava que não sarava. E dava a razão. Eram razões altamente teológicas, dignas de serem meditadas por quem, sem discernimento, tem pena de todos que sofrem, de todos os doentes. 

Dizia: “não vou curá-lo porque a cura será um mau para sua alma!”

Outras vezes: “eu poderia curá-lo e não faria mal. Mas é preciso fazer ainda mais penitência de seus pecados para depois curá-lo. Vá fazer penitência”.

No homem de hoje: imobilidade tremenda, coração empedernido e bruto

Agora, meçam a diferença do homem de hoje. Há uma imobilidade tremenda, cadavérica do homem contemporâneo. Seu coração é empedernido, bruto. 

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