30 de dezembro de 2012

Como ensinar o Catecismo às crianças? (Parte I)

O ensino do Catecismo, como tal, não oferece diferença das demais disciplinas, e deve ser feito pelos métodos mais racionais. Resta-lhe o terreno sobrenatural, a que somente ele se eleva. Mas não dispensa os meios naturais, antes conta com eles. E se falhou tanto a formação cristã dos nossos maiores, terá sido precisamente pelos erros dos processos empregados? Não sejamos nós, melhor esclarecidos, que recaiamos nas faltas lastimadas.
O grande erro metodológico era o intelectualismo. Foi a plenitude da dedução, excelente para os estudos filosóficos e teológicos, mas absurda para as crianças. Falando à inteligência, degenerando quase sempre em memorismo, não interessava a vontade, não tocava a pessoa, não descia à vida, não informava a conduta. Satisfazia-se com ensinar, esquecido de que a Religião é uma vida¹.
A orientação geral é hoje para a indução: ir do conhecido para o desconhecido, do sensível para o espiritual, do concreto para o abstrato, do particular para o geral, de baixo para cima.
Como métodos de conhecimento são os únicos, e teremos de optar, sendo, porém, de notar que nunca existem isoladamente, sempre se ajudando, havendo, entretanto, a predominância de um.
Aplicados ao Catecismo, estes dois métodos criaram o "Método de São Sulpício", dedutivo, e o "Método de Munique" (também chamado "Método Psicológico"), indutivo. A este se estão ligando hoje os que querem a Religião ensinada de acordo com o avanço da moderna pedagogia. O outro fez sua época, na França, principalmente.
Também chamam de método a modos de ensinar peculiares a certos pedagogos, a certos processos. Neste sentido há muitos métodos catequéticos, como os há profanos. Não vejo por que demorar-nos a este respeito.
Mas há certos "métodos" muito em voga: Decroly, centros de interesse, Montessori², método de projetos, etc. Estão todos os processos modernos filiados ao método indutivo, que seguimos e explanamos aqui, e cujos instrumentos daremos em seguida, dividindo-os por grupos. Afastados os erros, corrigidos os exageros, advertida a catequista do plano sobrenatural em que nos movemos, tudo o que a moderna metodologia tem produzido e ainda produza deve ser aproveitado no Catecismo.
Os "projetos" e "centros de interesse", muito vivos, excelentes para o ensino globalizado, podem fornecer ricas oportunidades para ensinar Religião, mas a sua aplicação nas aulas de Catecismo só me parece que deva ser feita raramente, em vista do pouco tempo de que dispomos para elas. 

I MATERIAL
Quadros murais - Preciosos auxiliares do ensino religioso são os quadro murais. As crianças gostam enormemente de ver figuras, que despertam e prendem a atenção mesmo dos adultos. Não podemos, pois, dispensar-nos deles em nossas aulas. Não basta, porém, ter o quadro para mostrar às crianças; é preciso saber usar dele. Para isso, a catequista deve, antes, estudá-lo, cuidadosamente, sabendo ao certo de que se trata, conhecendo as figuras que apresenta, preparando-se para responder às numerosas perguntas que ele possa sugerir aos alunos. Do contrário, se expõe a titubear nas explicações, ou - o que seria ainda pior - dá-las erradas.
Nem se deve jamais perder de vista a finalidade prática do Catecismo. Por isso é necessário saber tirar as conclusões e aplicá-las à vida infantil. Nunca insistiremos demais sobre este ponto, que é o essencial em todo o ensino religioso.
Os quadros murais do Catecismo devem ter umas tantas qualidades, para preencherem devidamente os seus fins.
a) Verdadeiros - É a primeira qualidade. Se representam um fato histórico devem traduzi-lo fielmente. Se contêm uma doutrina, devem significá-la ortodoxamente. A catequista terá o cuidado de evitar os quadros que não sejam conformes à verdade.
b) Inocentes - Para nós, a suprema regra é a santificação dos alunos. Nada que os possa escandalizar. Há certos quadros que ofenderiam ao pudor dos pequeninos. Pouco importa que sejam históricos ou artísticos; devem ser afastados.
c) Belos - Ao mesmo tempo que vamos formando a vida cristã, podemos e devemos ir desenvolvendo o gosto artístico da criança. Além disso, a ausência de beleza prejudica, porque torna, às vezes, ridículas as figuras - o que é, sem dúvida, em prejuízo da dignidade da Religião. Os quadros, como as imagens, são para elevar, edificar, mover, instruindo.
d) Coloridos - As cores chamam mais a atenção, facilitam o trabalho da memória. Os psicólogos explicam que as cores primárias são mais do agrado das crianças, e devem ser, por isso, preferidas. Não podemos esquecer que o colorido dá uma impressão mais viva da realidade.
e) Simples - A matéria do quadro deve estar bem visível e destacada. Minúcias, enfeites, acúmulos de matérias, afastam a atenção do objeto principal. Só assim se conseguirá fixar a atenção sobre o que, precisamente, se quer ensinar. Só assim se garantirá a retenção pela memória que não se sobrecarrega.
f) Grandes - Para serem facilmente vistos pelas crianças. É preciso que as crianças possam vê-los como quiserem. Não faz mal que os toquem, porque há muita gente que só sabe ver direito... com as mãos. A catequista cuidará apnas de evitar o desasseio e os estragos propositados.
Estes são, sem dúvida, os quadros ideais. Nem sempre são assim os de que podemos dispor. E... é deles que nos vamos servir.
Digamos uma palavra sobre o modo de usar dos quadros murais.
O melhor é não ter expostos os quadros para o ensino. As crianças se acostumam com eles, e não prestam mais atenção quando apresentados.
Quando apresentar o quadro às crianças? Antes de explicar a doutrina ou contar a história? Enquanto se fala? Ou depois? Divergem as opiniões.
A meu ver, depende muito da natureza do quadro. Costumo apresentá-los antes, toda vez que se trata de objetos desconhecidos pelas crianças. Então fica mais fácil explicar. Para pontos de doutrina ou história, narro primeiro o fato ou dou a explicação. Depois, mostro o quadro. Reanima-se o pequeno auditório: aviva-se-lhe a atenção. Deixo ver o quadro, observo as impressões que desperta; ouço os comentários... Vou então repetindo com os pequenos a história ou a doutrina. Faço repetir pela classe. Tiro as conclusões e aplicações morais.
Em todo caso, é este o meu modo de ver e fazer. Outros farão de outra maneira com igual ou maior êxito.
O que importa é não perdermos um auxiliar tão valioso para o ensino da Religião. Não é difícil dotar cada Grupo Escolar, cada Catecismo paroquial, de uma coleção de quadros. Um pouco de boa vontade realizadora, e teremos em mãos com que prender a atenção das crianças e lhes facilitar a aprendizagem da doutrina e da virtude, em que se devem formar.
Álbuns - São os álbuns um elemento de que a boa catequista não deixará de lançar mão, pelos excelentes serviços que podem prestar. Não nos demoraremos sobre o valor pedagógico dos álbuns: todas as professoras o conhecem. Apliquemos ao Catecismo.
Como sempre, deixando a maior parte ao trabalho das crianças, deixando-lhes mesmo a impressão da iniciativa, suscita-se a ideia do álbum. Já existem na classe, no Grupo, álbuns de geografia, de história etc. É fácil passar a ideia para a Religião. Talvez outra catequista já organizou um álbum catequético. Mostrá-lo aos alunos é despertar-lhes o desejo de fazer um igual. Querem fazer? O interesse começou.
Quantos álbuns religiosos se podem fazer! A professora orienta. É a Quaresma: um álbum da Via-Sacra. É o mês de maio: a vida de Nossa Senhora, ou uma coleção das invocações, ou das mais bonitas igrejas do Brasil dedicadas a Nossa Senhora. Ensina-se o Ciclo Litúrgico: que lindo trabalho o dos domingos do ano! Estuda-se a vida de Cristo: querem mais rico motivo para um álbum? Ou simplesmente as parábolas. Os sacramentos, os mandamentos, os dons do Espírito Santo, as missões, e mil outros motivos a catequista achará ricos de interesse e de lições.
Como fazer? Suscitado o interesse, despertado o entusiasmo, a catequista faça as crianças fazerem. Vá animando e dirigindo o trabalho - e as crianças vão trabalhando. Elas arranjarão o livro, ou o farão e encadernarão. Elas providenciarão as estampas. Quanto motivo para educação! Proponho, por exemplo, que tragam os santinhos que tem, para se escolher. A escolha, motivada, já é um trabalho de educação estética e religiosa, o darem os seus santinhos para o álbum da classe já é um desprendimento excelente, para combaterem o egoísmo. O álbum pode ser de simples figuras cortadas de jornais e revistas. Na confecção de um álbum sobre a vida de Cristo passa-se e repassa-se o Catecismo quase todo. Depois de organizarmos um álbum sobre a Via-Sacra, grande parte das crianças sabia todas as estações de cor, sendo capazes de fazer sem livro o piedoso exercício. Eu mesmo presenciei cenas como esta: "Mamãe, a senhora tem um santinho com a IX estação?" E a mamãe não sabia qual é a IX estação, e... aprendia!
Embora sem tanto valor educativo, os álbuns feitos pela própria catequista prestarão um bom auxílio à catequese, substituindo as coleções de quadros, os Catecismos ilustrados, em que somos ainda muito pobres.
Projeções - As projeções luminosas são um dos auxiliares mais eficazes da catequese. Sob vários aspectos valem mais do que os quadros murais. As figuras aparecem maiores e luminosas, atraindo mais a curiosidade, e podendo agrupar maior número de alunos. Sendo maior a impressão, grava-se melhor.
Não será talvez recomendável usar a projeção todas as semanas, porque as crianças se acostumariam demais, e o interesse cairia. Também porque ainda somos pobres de vistas e seríamos obrigados a repeti-las, desgostando ou enfadando os pequenos.
O inverso será igualmente errôneo. As projeções não devem ser tão raras que pareçam diversão ou prêmio.
O bom emprego será o da função didática, como dos quadros murais. Sobre a vista projetada, a lição dada pela catequista. Para isto, compreendamos: a) que a catequista, antes de projetar, terá estudado bem o quadro, para poder explicá-lo; b) que a projeção é um meio e não um fim; c) que as vistas projetadas serão poucas, porque, do contrário, as crianças não poderão reter as explicações dadas; d) que serão todas em torno do mesmo tema, que explanarão e farão compreender, a fim de evitar a dispersão; e) que as crianças não se limitarão a ver, mas tomarão parte intelectual e espiritual ativa.
Ainda melhor, servirão as projeções como meio de recapitulação. Aí então as vistas poderão ser mais numerosas e variadas, conforme a matéria a rever. Aí também as vistas devem ser explicadas pelas crianças.
Quanto ao cinema, temos várias restrições a fazer. Ainda não existem entre nós os filmes religiosos, didáticos. Fala-se, é verdade, de "filmes educativos" que me proporcionaram grandes decepções. São cheios de aventuras policiais e cenas pouco edificantes. Raros, raríssimos, os educativos de verdade.
As crianças se contentam com as projeções fixas, que tem ainda a vantagem de ser muito mais baratas. Há mesmo aparelhos de preço acessível, muito bons e de fácil manejo. Até mesmo os adultos apreciam essas projeções, que fornecem ocasião a um bom apostolado.
Museu catequético - Se todas as boas escolas tiveram sempre os seus museus, a escola atual menos ainda o pode dispensar, em vista do seu grande valor instrutivo e sobretudo educativo.
Se o museu escolar tem de tudo, porque tudo interessa aos alunos, há de ter também da Religião, porque esta interessa ainda mais.
E se a orientação do museu escolar, sem perder o contato com a ciência e com a arte, tiver sempre um caráter prático de aproveitamento para a vida, a Religião terá aí o seu grande lugar, porque não se pode separar a vida da Religião.
É fácil, aliás, contribuir com o material religioso para o museu. Todas as salas tem o "museu de classe", com tudo o que as crianças reúnem e guardam sob a orientação da professora. Aí estará, portanto, um fato material referente ao Catecismo. As legendas ou dísticos, desenhos, modelagens, recortes, gravuras, mapas, álbuns, todas as manifestações da atividade escolar estarão ali. E não só das crianças, da professora também, porque ela também trabalha e contribui para o museu.
O "museu da escola" tem muito maiores possibilidades que o da classe, porque é fruto de uma cooperação maior, conta com mais ricas possibilidades. Todas as classes contribuem para ele. A sua organização já é mais perfeita. Lá estará igualmente, numa seção especial, tudo o que toca ao ensino religioso.
Todos compreendem a grande vantagem desta conjunção de esforços. Tem outro interesse uma aula dada em face do material que lá se encontra. Fora das aulas, as crianças poderão visitar o museu, e verão muita coisa, aprendendo umas, relembrando outras, completando aquelas.
Para facilitar esse trabalho das crianças, o material estará ao seu alcance, de modo que possam ver e pegar. E tudo será bem etiquetado, para que os pequenos leiam e fiquem sabendo o que é, por si mesmos, sem o auxílio ou com um pequenino auxílio apenas da professora.
Seria muito para desejar que nas cidades maiores se organizasse o museu catequético, este puramente catequético, de maiores proporções, que pudesse servir de modelo, e prestasse serviços a maior número de pessoas. Ali viriam as catequistas da vizinhança buscar novas ideias; e facilmente se melhorariam os métodos do Catecismo pelo interior do país. As sedes dos bispados poderiam iniciar imediatamente esse trabalho, que não é difícil. Haveria, entre os demais, a vantagem da visita dos reverendíssimos vigários, que sempre estão na cidade episcopal. Uma espécie de exposição permanente. Não faz mal começar pequenina. Crescerá depois. Mas é preciso fazer-se.
Quadro-negro - Quer o catecismo seja na escola, quer na igreja, o quadro-negro deve ser usado. Arguirão dificuldades para a igreja. Fáceis de remover. Quadros-negros pequenos, de cavalete, que as próprias crianças transportam com prazer, no momento da aula, do lugar em que ficam guardados para o da aula, e vice-versa.
Não me digam, por tudo, que isto é uma inovação. Quem já viu um quadro-negro na igreja? Mas a igreja já não está transformada em sala de aula?... Não nos pareçamos com aquele que não permitia aulas de Catecismo na igreja, porque os meninos fariam desordem!
É erro pensar que o quadro-negro serve para perder tempo. Bem ao contrário. Mantém, mais facilmente, a atenção dos pequenos. Desperta o interesse. Ajuda a memória, porque muita coisa eles ouvem e, ao mesmo tempo, vêem escrita. Alimenta a atividade infantil: manda-se ora um, ora outro escrever no quadro. E enquanto um escreve, os outros acompanham.
A catequista que não o utiliza priva-se de um auxiliar precioso. E quem, como nós, quer atingir um fim tão alto, não se pode privar de um meio, antes deve pô-los todos em ação, para melhor assegurar-se o êxito.
No quadro, a catequista escreverá definições (se os meninos ainda não tem todos o catecismo), as divisões; as palavras novas para as crianças; as máximas, os hinos que vai ensinar; fará seus gráficos e esquemas; desenhará objetos; fará resumo da aula, para melhor gravá-la, e assim por diante.
Não me parece sem importância as crianças gostarem do quadro-negro: tornar a aula de Catecismo do gosto dos alunos é apostolado dos melhores em favor do ensino religioso.
Não fiquemos somente em lastimar que um meio tão poderoso e eficiente tenha estado ausente de nossas aulas de Religião, quando é tão fácil e tão barato. Corrijamos o erro, trazendo o quadro-negro para a frente das crianças, e nos aproveitemos de suas vantagens.
Mapa da Palestina - Agora já ninguém se admirará que, ao lado do quadro-negro, peçamos um bom mapa da Palestina, para o Catecismo, mesmo paroquial. É simples. Pensou-se já em começar o ensino do Catecismo pelo mapa da Terra Santa. Não me parece o indicado. Mas agora a criança já tem noções de geografia capazes de lhe permitirem o uso do mapa. Fala-se em Belém e Nazaré, em Cafarnaum e Jerusalém. E se estabelece um confronto entre Judeia e Galileia. A criança ouve essas palavras. Antigamente era muito mais vagas. Hoje, no quadro negro, tomaram forma concreta. Agora tomam uma forma viva. Ela acompanha no mapa a caminhada que Jesus fez com seus apóstolos.
Se a catequista é mais cuidadosa, tem o seu mapa da Terra Santa. Neste seumapa, ao lado do nome da cidade, está uma vista da cidade colada ou um desenho com o fato da vida de Cristo. É a gruta do nascimento, o templo da pregação, o Calvário, a oficina de Nazaré. Pode vir a distância em quilômetros. Então é muito mais interessante acompanhar as viagens de Nosso Senhor.
Dísticos - Se a aula é dada na escola, é mais fácil prender às paredes alguns dísticos em letra grande e vistosa, com frases curtas e sugestivas.
Essas máximas têm grandes vantagens. Na escola entram a propósito de tudo. Para a formação de hábitos educados, o combate ao álcool, a boa alimentação etc, lá estão, pelas paredes, as pequenas frases, acompanhando, às vezes, sugestivas figuras. O simples fato de, entre elas, aparecerem os motivos religiosos já é vantajoso: não se exclui a Religião, relegando-a para um plano excepcional da vida.
Mesmo na igreja se pode achar meio de colocá-las antes da aula, de modo a serem facilmente vistas pelas crianças. Depois se retiram.
Fica a critério da catequista escolher as máximas de acordo com o espírito da classe e com a lição.
É fácil fazer esses dísticos. Uns podem ser mais enfeitados, com gravuras, desenhos etc. Outros serão mais simples. Sempre em caracteres claros e bem facilmente legíveis. Nalguns as próprias crianças podem ajudar, escrevendo ou ilustrando. Pode-se também mandar escrever nas capas dos cardernos, nos santinhos de lembrança etc, de modo a ir enchendo com este espírito cristão a mente da criança, assaltada pelas máximas pagãs que a cercam de todos os lados.
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(1) - Não nos deteremos no assunto. Os que quiserem um estudo bem feito consultem o "Méthode Pédagogique de l'enseignement du Catéchisme" do P. C. E. Roy, que esgota a questão.
(2) - Para saber mais sobre a pedagogia Montessori, clique aqui.

(Capítulo do livro A pedagogia do Catecismo)

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