Em entrevista ao “Fantástico”, da Rede Globo, no dia 20 de maio, Maria da Graça Meneghel, a popular Xuxa, em meio a muita emoção, contou que foi abusada sexualmente na adolescência: “Não foi apenas uma pessoa, mas várias. Parou quando eu tinha 13 anos. Eu tinha medo de falar, pois temia passar por tudo isso novamente. Uma dessas pessoas era o melhor amigo do meu pai, que queria ser meu padrinho; outra, um cara que ia casar com minha avó; o terceiro, um professor”.
Perguntada por que isso aconteceu com ela, respondeu que, talvez por ser alta, chamava a atenção dos homens e, por muitos anos, se sentiu culpada pelo que acontecia: “Sempre achei que eu estava fazendo alguma coisa errada: ou era minha roupa ou era o que eu fazia que atraía a atenção. Essas coisas me doem, me machucam. Quando eu me lembro de tudo o que aconteceu, que eu nada podia fazer porque não sabia, não tinha experiência, me dá vontade chorar. O que uma criança pode fazer?”.
Para ela, a violência que assola hoje a sociedade começa sempre – ou quase sempre – dentro do lar: “Descobri que 80% das crianças que estão nas ruas se prostituindo – a palavra nem seria essa, porque elas não sabem o que fazem –, roubando e se drogando, sofreram algum tipo de abuso e de violência dentro de casa. Foi isso que fez com que elas saíssem por aí”.
Dentre as pessoas que comentaram o assunto na internet, uma me chamou a atenção pela inclemência: “Com suas maneiras provocantes de se vestir e de se exibir, ainda se queixa que foi abusada? Você teve o que quis! Primeiro seduz, depois se queixa! Você faz como muitas outras mulheres: abusam da sensualidade para atrair os homens e, depois, choram!”.
As críticas se acentuaram no dia 27 de junho, quando se soube que o Superior Tribunal de Justiça deu ganho de causa ao Google na ação que Xuxa lhe moveu em 2010, por ter publicado fotos e vídeos em que ela aparece nua em cenas de sexo.
A sociedade atual acabou erotizada como nunca antes acontecera. Tudo gira a partir e em torno do sexo, visto muito mais como uma ocasião de prazer egoísta e passageiro do que fruto ou incentivo de relações sadias, que constroem e plenificam as pessoas. Não será também esta uma das causas do crescimento assombroso dos casos de estupro, de pedofilia, de divórcio e, inclusive, de roubos e assassinatos?
De acordo com os antigos escolásticos, “salus ex integra parte – a saúde é sempre integral”. Se o olho está doente, é todo o corpo que fica prejudicado. Se alguém é escravo de seus instintos sexuais, dificilmente saberá controlar-se em outros aspectos da vida familiar, social e econômica.
É o que perceberam os Bispos Latino-Americanos, em sua Conferência de Aparecida, em 2007:
“O consumismo hedonista e individualista que coloca a vida humana em função de um prazer imediato e sem limites, obscurece o sentido da vida e a degrada.
A vitalidade que Cristo oferece nos convida a ampliar nossos horizontes e a reconhecer que, abraçando a cruz cotidiana, entramos nas dimensões mais profundas da existência. Jesus Cristo nos oferece muito mais do que esperamos. À Samaritana, ele não dá apenas a água do poço. À multidão faminta, ele concede muito mais do que o alívio da fome. Entrega-se a si mesmo como a vida em abundância”.
Por mais cafona que isso possa parecer, se ainda suspiramos por um mundo justo e fraterno, será preciso voltar a acreditar na castidade. É o que demonstra o “Catecismo da Igreja Católica”:
“Castidade é a integração correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e temporalmente ilimitada do homem e da mulher. A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação”.
Para Xuxa, a violência das ruas tem a sua origem na falta de amor em casa. Só faltou acrescentar – mas, talvez, ela jamais teria coragem de o afirmar: sem castidade, não existe amor! A não ser que, por amor, se entenda a carência existencial que se tenta saciar com a dissolução dos costumes, raiz da corrupção que inferniza hoje a sociedade.
Por Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (RS)
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