18 de março de 2013

NOSSA SENHORA E O FAMOSO CAÇADOR

Certa manhã, pouco antes do almôço, descia do trem em Lourdes um senhoraço, completamente indiferente, que mal se resolvera a acompanhar a espôsa e a filha ao balneário. Não pensava em demorar-se ali mais que o tempo que medeia entre dois trens: era tudo o que conseguiram alcançar dêle a espôsa e a filha.
Apenas lá chegadas, correram as duas à gruta para rezar pelo chefe da família, que tanta pena lhes causava por sua irreligião.
Êle, porém, mais preocupado com o estômago do que com a alma, foi à procura do melhor hotel e, chamando o garçon, disse:
- Enquanto espero minha senhora e minha filha prepare para nós três um bom almôço.
- Deseja o Sr. comida como de sexta-feira?
- Como? De sexta-feira?
- É que hoje é dia de abstinência e quase tôda gente o guarda, pelo menos aqui.
- Que me importa o dia? diz o livre-pensador. Ora essa! O almôço tem que ser substancioso, e demais sou caçador, quero carne, ouviu?
O garçon inclinou-se respeitoso e deu ordem ao cozinheiro de preparar bife, frango, etc.
Acendendo um bom charuto, o nosso homem dizia de si para si:
- Não hão de dizer que não vi a famosa gruta... irei ver aquilo.
Chegou lá muito antes que as duas senhoras tivessem terminado suas visitas à gruta, à basílica e à cripta, em tôda a parte rezando e suplicando por seu querido rebelde... Quando chegaram de novo à gruta, que surprêsa! lá estava o homem ajoelhado, chorando e rezando com todo o fervor. Era êle? Quase não podiam crer. Sim, era êle mesmo. Não se atreviam a falar-lhe, mas êle logo que as viu exclamou:
- Sim, sou eu, rezo e choro. Sómente sei que vim sem pensar em nada, mas, achando-me diante desta imagem, uma emoção indescritível se aposerou de mim. Caí de joelhos e, ao ver um padre, perguntei-lhe se podia me confessar. Atrás do pequeno altar da gruta fiz minha confissão. Oh! como sou feliz! Ficaremos aqui hoje e amanhã comungaremos.
Não foi o único a derramar lágrimas; os três choravam e davam graças a Nossa Senhora. Ao chegar ao hotel, e vendo o salão repleto de gente, exclamou:
- Srs., eu sou o famoso caçador N. N. Quando cheguei aqui ainda era um ímpio; agora tendes aqui um homem que acaba de confessar-se e vai comungar amanhã.
- Garçon, ponha para nós almôço de sexta-feira...
Que surprêsa para todos os assistentes!
Desde aquela sexta-feira o Sr. N. N. foi um cristão fervoroso!

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