Os cristãos sempre sofreram intensas perseguições, chacinas e saques durante o transcorrer dos séculos, principalmente no início da formação da Igreja. Tanto que muitos dos escritos foram queimados ou destruídos de outra forma. Por isso a memória da Igreja, às vezes, tem dados insuficientes sobre a vida e a obra de santos e mártires do seu passado mais remoto. Para que essas poucas evidências não se perdessem, ela se valeu das fontes mais fiéis da literatura mundial, que nada mais são do que as próprias narrações das antigas tradições orais cristãs preservadas pela humanidade.
Interessante é o caso dos dois santos com o nome de Dionísio, venerados pelo cristianismo. A data de hoje é consagrada ao Areopagita, sendo o outro santo, o primeiro bispo de Paris, festejado no dia 9 deste mês.
O Dionísio homenageado foi convertido pelo apóstolo Paulo (At 17,34) durante a sua pregação aos gregos no Areópago, daí ter sido agregado ao seu nome o apelido de Areopagita.
O Areópago era o tribunal supremo de Atenas, na Grécia, onde eram decididas as leis e regras gerais de conduta do povo. Só pertenciam a ele cidadãos nascidos na cidade, com posses, cultura e prestígio na comunidade. Dionísio era um desses areopagitas.
Nascido na Grécia, no seio de uma nobre família pagã, estudou filosofia e astronomia em Atenas. Em seguida, foi para o Egito finalizar os estudos da matemática. Ao regressar a Atenas, foi nomeado juiz. Até ele chegou o apóstolo Paulo, quando acusado ante o tribunal em que se encontrava Dionísio.
Dionísio, ao assistir à eloquente pregação de Paulo, foi o primeiro a converter-se. Por isso conseguiu para si inimigos poderosos entre a elite pagã que comandava a cidade. Foi então que São Paulo acolheu o areopagita entre seus primeiros discípulos.
Logo em seguida, Dionísio foi consagrado pelo próprio apóstolo como bispo de Atenas. Nessa condição, ele fez muitas viagens a terras estrangeiras, para pregar e aprender a cultura dos outros povos. Segundo se narra, nessas jornadas teria conhecido pessoalmente São Pedro, São Tiago, São Lucas e outros apóstolos. Além de os registros antigos fazerem referência sobre ele na dormição e Assunção da Virgem Maria, a mãe do Filho de Deus.
Em Atenas, seus opositores na política conseguiram sua condenação à morte pelo fogo, mas ele se salvou, viajando para encontrar-se com o papa em Roma. Depois, só temos a informação do Martirológio Romano, na qual consta que São Dionísio Areopagita morreu sob a perseguição contra os cristãos no ano 95.
Assim, tudo o que se pode vislumbrar é que o pseudo-Dionísio foi provavelmente um monge (pela grande quantidade de citação das Escrituras na sua obra) sírio ou palestino (dada a rápida aparição da tradução siríaca) e que escreveu após Proclo e antes do Concílio de Constantinopla, ou seja, no fim do século V e início do VI.
Sua Obra o corpus dionisianum é constituído por 4 tratados e 10 cartas:
· Tratados:
1. Hierarquia Celeste – composta por quinze capítulos, trata das hierarquias de anjos citados na Sagrada Escritura através de um esquema que lembra a teologia de Proclo, devidamente cristianizada.
2. Hierarquia Eclesiástica – sete capítulos, em que descreve a liturgia e a interpreta alegoricamente.
3. Sobre os Nomes Divinos – em treze capítulos, é o mais longo dos livros do corpus. Examina os nomes inteligíveis atribuídos a Deus, retirados da Sagrada Escritura.
4. Teologia Mística – cinco capítulos, trata do conhecimento místico.
· Cartas:
1. Sobre o conhecimento místico.
2. Sobre como Deus está acima do divino e do bem.
3. Trata da divindade oculta de Jesus.
4. Sobre a encarnação de Jesus, verdadeiro homem e supra-essencial.
5. As trevas divinas.
6. Exorta a firmeza na verdade.
7. Crítica a alguns sofistas.
8. Sobre a mansidão.
9. O simbolismo das escrituras.
10. A São João Evangelista, no seu exílio na ilha de Patmos.
Fonte: Edições Paulinas – Revista Mirabilia
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