A concepção judaico-cristã sempre associou o termo glória ao peso, à densidade do impalpável, do eterno, do imorredouro. Sempre houve a glória intra-histórica, dedicada aos homens de valor, às autoridades ou figuras de respeito. Porém, o Ocidente, por uns séculos, buscou glorificar as realidades que merecem a glória, ou, antes, que a tem em si. E em função desta, glorificou, segundo uma ordem bem determinada, as referências que apontavam de alguma maneira para o eterno.
Porém, estamos em tempos de pulverização do impalpável, do eterno e do imorredouro, se é que é possível falar em pulverização de algo que, de per si, não pode ser quebrado. Quem se quebra é o homem. Sim, sua base é sua filosófica, seu conhecimento, sua sabedoria, enfim, seu Deus. Seu fundamento seria uma referência absoluta que o levasse a compreender o sentido que sua vida leva e a saudade que tem de algo que lhe transcende. Mas se o homem pulveriza o que há de criado a partir disso dentro de si (sim, há um Deus e uma imagem de Deus em si, há uma sabedoria eterna e uma sabedoria criada e, quando possível, desenvolvida, no homem, o conhecimento, as idéias, as relações, etc.), já não há mais possibilidade de verdade nele. Diz o Salmo 115, "todo homem é mentiroso, todo homem". Isso se torna radical aqui.
O espetáculo que assistimos hoje se deve a essa pulverização dos fundamentos do humano. As glórias são aparentes, as verdades já não são ditas, nem vividas. Estamos em tempos de inconsistência, de inanição interior. O colapso total é questão de tempo.
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